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o que nunca consegui dizer.

Sempre que alguém me diz que sou madura demais pra alguém da minha idade, preciso de muito autocontrole para não dizer que na verdade me sinto uma adolescente em muitos aspectos, em especial quando se tratam de certos sentimentos.
Durante todos esses anos, a forma pela qual me interesso pelas pessoas sempre girou mais em torno do "E aí, vamo conversar?" do que "E aí, vamo se beijar?". Para ser bem sincera, se eu já quis beijar duas pessoas em toda a minha vida foi muito (e normalmente essas vontades viriam acompanhadas com aquela boa dose de carência que só a tpm pode proporcionar).
Acho que, de todos os meus (poucos) feitos em vinte e dois anos, chegar a essa idade sem nunca ter sentido nem sequer um único resquício de paixão e nunca ter cultivado o amor romântico é uma proeza e tanto. Além de só ter beijado o total de uma pessoa (e, pasmem, essa única pessoa com quem me envolvi foi exatamente neste ano em que escrevo esta confissão/carta aberta/página rasgada de diário/qualquer outra coisa que você queira chamar isso aquii).
Qual é a sensação de se apaixonar por alguém? Quando é que realmente sabemos que estamos gostando de alguém desse jeito?
Às vezes me pego pensando se eu de fato já me apaixonei por alguém e acabei deixando por passar despercebido, porque até então, todas as pessoas por quem achei que tinha me apaixonado não passaram de alarmes falsos, possivelmente consequências de uma auto-pressão que volta e meia surge de forma inconsciente. Afinal, como se pode chegar a vida adulta e desconhecer uma das principais coisas que, pelo menos em tese, o ser humano mais busca? Como desconhecer a sensação de se ter uma "musa" como fonte de inspiração para as artes?
Sim, a paixão é um sentimento que surge de forma inconsciente que não somos capazes de controlar, mas em algum momento percebemos. Sempre percebemos.
Viver um romance na vida real me parece algo tão estranho que tendo a acreditar que o amor romântico não foi feito para mim e que talvez o melhor é continuar sendo a que apenas vê o amor nascer entre as pessoas.
Não é que eu me importe de morrer solteira. Isso é o último dos meus problemas. Não acho que seria uma grande perda na minha vida e muito menos que estaria "vivendo menos" sem isso. Mas é inevitável para mim ficar se perguntando a respeito do que nunca senti. De querer saber como é o coração bater diferente para alguém, de saber como se sabe que aquela pessoa é realmente quem você mais gostaria de dividir uma vida inteira.
Penso se nunca me apaixonei por mero bloqueio. Por medo, diversos tipos de medo. Ou se só não funciono da maneira que se esperam mesmo. Não me adequo muito bem ao sistema de "ficadas" e sou engessada demais para mandar e receber flertes (de uns tempos para cá, descobri que essa arte tão adotada pelas pessoas me deixa desconfortável).
Para ser bem sincera, toda essa coisa de "paquera" me sufoca, por mais que seja uma forma das pessoas demonstrarem o que sentem. Entendo o lado delas e as apoio, mas infelizmente não é algo que funciona comigo. É uma realidade à qual nunca consegui me adequar, e já passei muito tempo abrindo mão de mim mesma e das minhas próprias vontades pra tentar me encaixar em espaços que nunca pertenci.
Isso não quer dizer que me arrependo do único envolvimento que tive, muito pelo contrário. Me fez abrir os olhos para muitas outras coisas além dessas certezas que já apontei no decorrer disto aqui, assim como muito do que senti pela primeira vez foi genuíno. Por mais que a pessoa tenha achado que era cedo demais para um fim, tenho certeza de que as coisas tomariam um rumo não muito legal se seguisse adiante. Espero que ela entenda isso com um tempo, por que ela realmente é uma pessoa muito boa e merece alguém que a ame e que seja capaz de corresponder a cada um de seus sentimentos.
Também me faz lembrar da única pessoa que conseguiu reunir toda a coragem possível para dizer com todas as palavras que gostava de mim. Se estiver lendo isso, saiba que (com todo respeito) sua noção de timing continua péssima, mas que ainda assim consigo lhe entender. Ainda assim, me senti sufocada. Deveria ter sido mais clara naquela hora sobre não querer continuar falando sobre isso no momento. Infelizmente não lhe vejo da mesma forma que você, mas continuo torcendo muito por você em todos os aspectos da vida. Só quero que me prometa que usará a mesma coragem que usou pra se declarar pra mim e dizer ao mundo tudo o que sentir. Grite. Viva. Não tenha medo de dizer o que está dentro de você por medo. Em uma realidade que nos ensina a reprimir, transbordar é um ato revolucionário. Quero que você pelo menos tente. Há muita coisa dentro de você que tenho certeza de que muitas pessoas vão se encantar, porque você seria uma pessoa pela qual gostaria de ter me apaixonado.
Com toda certeza me superei na quantidade de "eu's" escrevendo isto, na mesma medida em que este deve ser o texto mais longo que já escrevi aqui. Porém é também um dos meus gritos mais sinceros, e nenhuma palavra escrita aqui se aguentava dentro de mim mais. Nas palavras da própria Lispector, ou nós as escrevemos, ou as deixamos nos sufocar. E eu sempre me senti mais confortável escrevendo do que falando, assim como sinto que sou mais clara assim.
Agradeço a todos que leram e conseguiram chegar até aqui. Espero que de algum modo tenha feito sentido.

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